Primeiro foi a Alfândega, que quinta-feira inventou alguns motivos para barrar a entrada de papel importado que seria usado para rodar o diário La Prensa (Manágua, Nicarágua). O jornal, desde então, não está sendo impresso.
Nessa madrugada a polícia prendeu o gerente geral de La Prensa, Juan Lorenzo Holmann, alegando investigação sobre lavagem de dinheiro e fraude aduaneira. Há dois meses colocou em prisão domiciliar a sócia de La Prensa, Cristiana Chamorro, também pré-candidata à presidência.
O nome dessas operações absurdas - e sem nenhuma base de fatos - é ditadura. O presidente Daniel Ortega, que já alterou a constituição para permanecer quantos mandatos quiser no comando do país, entendeu que não teria força política para chegar ao quarto mandato. Decidiu, então, colocar na cadeia quem ousar ser contra o governo. E, na dúvida, preferiu silenciar o mais respeitado veículo de comunicação da Nicarágua.
Não existe democracia sem imprensa livre.
Tive o prazer de trabalhar com La Prensa há alguns meses, como consultor. Juan Lorenzo e Cristiana foram dois de meus interlocutores. Extremamente profissionais, buscávamos juntos saídas criativas para recuperar a saúde financeira da empresa, sem perder a ética jornalística e a relevância na sociedade nicaraguense. Conseguimos avançar bastante - antes de Ortega apelar para a força. Criamos laços de amizade. Torço muito por eles.
Ditaduras, de esquerda e de direita, fazem mal ao jornalismo. Se incomodam quando repórteres fazem bem o seu trabalho. Sem conseguir esconder as maracutaias, ditadores apelam para a força para calar meios de comunicação.
Liberdade para La Prensa.
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