O Supremo da Venezuela anunciou ontem que as eleições realizadas no final de Julho - e que ainda não foram reconhecidas por nenhum país sério - foram válidas. E que o atual presidente Nicolás Maduro foi reeleito.
Maduro colocou no Supremo todos os atuais juízes que, coincidentemente, sempre dão razão a ele. Mesmo sem que apareçam as atas das mesas eleitorais, como pede a oposição.
Mais: o Supremo avisou que a decisão é irrevogável e até ameaçou o candidato opositor.
Em um país de imprensa livre, isso seria tema único nas capas dos jornais. Mas na Venezuela a imprensa não é livre. Há pouco mais de 10 anos havia três jornais muito importantes: El Universal (Caracas, Venezuela), para elite, de oposição moderada a Hugo Chávez. El Nacional (Caracas, Venezuela) de oposição acentuada ao governo. E Últimas Notícias (Caracas, Venezuela), popular, mas com opinião e editoriais de apoio a Chávez.
Só que com Maduro isso mudou. Primeiro proibiu a chegada de papel nos dois primeiros jornais. Depois impôs multa atrás de multa para criar problemas. E ainda proibiu publicidade de grandes empresas. El Universal quebrou e foi quase dado de presente a um amigo de Maduro. El Nacional deixou de circular no impresso e o proprietário Miguel Henrique Otero fugiu para o exílio.
Um empresário aliado do governo, favorecido por negociatas pouco transparentes, comprou Últimas Notícias. Pagou um preço acima do mercado e ameaçou o então proprietário: venda ou prepare-se. Ele vendeu e fugiu para a Espanha, onde mora até hoje.
Em um dia como hoje, ÚN e EU apenas servem de eco para a proclamação absurda do Supremo. El nacional, com a versão em PDF (única possível), discute o jogo trucado de Maduro. Só que o acesso a EN está bloqueado no território venezuelano. Ou seja, só poucos conseguem ver.
Muito triste um país sem liberdade de imprensa.
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