Como se desenha e como não se desenha uma capa

Incrível a diferença que faz um bom designer e um editor de capa.

O conteúdo do Correio de Gravataí (Gravataí, RS) ontem era farto, um grande tema que foi seguido passo a passo pela equipe.

Já o conteúdo do Extra (Rio de Janeiro, RJ) era forte, mas sem novas e boas imagens.

Só que a criatividade resolveu com muito sucesso a capa do diário carioca, enquanto os gaúchos, na ânsia de muito publicar em pouco espaço, decidiu encher de fotos, sem qualidade, sem critério, e ficou esse samba doido que definitivamente não funciona.

Sem talento não se faz um bom jornal.

Desenho renovado no Ceará

O Diário do Nordeste (Fortaleza, CE) mudou. Desde ontem o formato adotado é o tabloide (metade do antigo standard) e o desenho se modernizou.

As mudanças gráficas são obra do ótimo espanhol Antonio Martín, um gênio de criação. Só que a criatividade necessariamente precisa vir acompanhada de ousadia editorial - o que está em falta pelos lados do Diário.

Um redesenho não nasce sozinho - ou naufraga. É preciso um consistente modelo editorial que seja a base da transformação. O design é apenas a apresentação dessa ideia.

Perspectiva ruim.

Belíssima página

O departamento de arte de O Povo (Fortaleza, CE) está emplacando páginas lindas e extremamente criativas.

Sob o comando gráfico de Gil Dicelli, o jornal cearense mostra que a imaginação está a cada dia mais determinante para o sucesso do conteúdo em publicações.

Essa página é um convite à leitura.

Os finalistas do Esso

Acaba de ser divulgada a relação de finalistas do Prêmio Esso 2013, o mais tradicional e respeitado prêmio de jornalismo do Brasil.

Dia 13 de novembro se anunciarão os vencedores.

Por enquanto uma boa saída é conferir alguns trabalhos na página Design2000 do Facebook, administrada pela competente designer Renata Maneschy.

Grande ideia em Minas

O Estado de Minas (Belo Horizonte, MG) pegou o gancho da exposição do holandês Maurits Cornelius Escher - autor da magnífica cascata (D) - para ousar de verdade na capa.

O processo de produção de um jornal, com lógica infinita, é a maravilhosa capa do EM.

Um trabalho de fôlego da equipe do jornal mineiro, que certamente colecionará alguns prêmios de design.

29 que são 7

Design é informação. Por isso não deve ser decoração.

O Jornal de Santa Catarina (Blumenau, SC) esquece esse conceito e repete copos de cerveja para que a capa fique bonita. São apenas 7 os copos nas fotos, mas todos se repetem até que, para embelezar a capa, se transformam em 29 unidades.

Repetir informação é roubar espaço do leitor.

Não precisava. Cosmética não é jornalismo.

A arte de estragar a capa

Não é preciso ser designer para estranhar as capas do Diário de S. Paulo (SP) e de O Vale (São José dos Campos, SP).

O pecado comum das duas primeiras páginas é a intervenção equivocada da arte sobre fotos.

Foto é informação. Intervenções desnecessárias só servem para estragar o bom conteúdo.

Lástima.

Design e informação

Em matéria de design, as capas de Estado de Minas (Belo Horizonte, MG) e Correio Braziliense (Brasília, DF) são as melhores do Brasil hoje.

Mas nenhuma delas acrescenta uma única informação a tudo o que já se sabe sobre o Conclave.

Por isso Zero Hora (Porto Alegre, RS), apostando nas mãos dos cardeais, é quem leva a Medalha de Ouro do dia.

Está naquelas mãos a escolha do pontífice. E pode ser brasileiro. Gaúcho.

A dúvida de Época

A revista Época (SP) ficou em dúvida sobre qual capa deveria ir às bancas.

A versão da esquerda foi a aprovada.

Muitos designers e editores preferiam a outra.

Dica de Renata Maneschy e de seu Design 2000, via Facebook

Como não aplicar texto sobre foto

É preciso um pouco de bom senso para aplicar texto sobre foto.

A lição número 1 é que o texto jamais deve atrapalhar a imagem. A aplicação se dá apenas sobre um fundo "morto", monocrômico. Ou a solução é deixar a manchete fora da foto.

A aplicação da manchete sobre foto na capa do Diário do Grande ABC (Santo André, SP) já se candidata como uma das piores de 2013, mesmo que ano tenha recém começado.

O texto sobre foto, no caso, dificulta a leitura, atrapalha o entendimento da imagem e ainda confunde ao estar metade na foto, metade no fundo branco.

Um lixo.

Invenções equivocadas no design

Há sempre um palpiteiro de plantão colocando mais e mais informações nas páginas, mesmo quando não deve - ou de forma equivocada.

Em O Liberal (Belém, PA), para agradar quem queria mais uma submanchete, criaram um título alto, com uma palavra em vermelho, que só serve para tirar força da manchete. Um claro erro de design.

No Diário de Santa Maria (Santa Maria, RS) aplicaram dois banners horizontais com fundo bege, ambos em cinco colunas, sem qualquer sentido. Só serviu para prejudicar a capa.

Desenho é informação. Desenho mal feito é perda de impacto.

O design pelo design

No jornalismo o design deve ajudar o leitor a captar a informação. Tudo o que se fizer com outro objetivo (por exemplo, "para ficar bonito") não tem sentido.

Chama a atenção a enorme coluna branca na capa da Gazeta do Povo (Curitiba, PR), que serve para encaixar a legenda da foto alta e também para dividir a coluna de chamadas da esquerda com o bloco informativo da direita.

A ideia é muito boa, talvez a aplicação tenha falhado. A sensação que se tem é que faltou alguma coisa, que há branco exagerado. Na mesma capa a manchete está pressionanda entre duas fotos abertas - e a manchete não se refere a nenhuma delas. Faltou capricho.

Já o jornal The Herald (Jasper, IN) opta por deslocar o logo para baixo, uma saída que muitos jornais já estão utilizando com frequência. Só que a mudança de local do logo precisa necessariamente ter um motivo: não atrapalhar uma foto, destacar uma manchete, permitir um infográfico.

No caso do The Herald, não há qualquer motivo. Só estética de design.

A foto que não diz nada

Não adianta o desenho da página ajudar - e destacar a grande foto. Se a foto não disser nada, a capa não funciona.

A capa do Hoje em Dia (Belo Horizonte, MG) deveria contar que há mais motos em circulação do que motoristas habilitados para conduzi-las.

Mas a história que a imagem conta mostra apenas automóveis e motos disputando espaços em uma rua movimentada.

O desenho, nesse caso, só ressaltou a baixa qualidade informativa da foto.

O uso exagerado de templates

Template (maquete de página) é uma conquista que dinamizou o design de jornais pelo mundo. Bons jornais têm uma biblioteca de páginas pré-desenhadas, o que agiliza a construção de cada uma, seguindo à risca o projeto gráfico estabelecido.

Mas jornais precisam ter, pelo menos, 20% de páginas criadas a partir da matéria pela equipe de desenho (padrão definido pelo The Washington Post).

Capa, aberturas de editorias e matérias especiais precisam ter um cuidado especial da arte. Mas não é o que acontece com pelo menos três jornais brasileiros, que costumam exagerar nos templates - principalmente na capa.

Correio de Uberlândia (Uberlândia, MG), Diário do Grande ABC (Santo André, SP) e O Popular (Goiânia, GO) estão repetindo demais as fórmulas gráficas. Assim se parecem iguais todos os dias.

Um jornal precisa trazer surpresa na capa. Esses três seguem tanto o manual gráfico que esquecem as novidades gráficas.

Merecem um novo projeto gráfico. Urgente.

O design moderno de O Povo

Muito bom esse corte de fotos na capa de O Povo (Fortaleza, CE).

Tanto pelo formato de banner, como pela ousadia de tirar queixo e testa dos personagens.

A inovação constante é uma das forças do bom jornalismo.

Acertou O Povo.

The Independent mudou

O jornal mais visual do mundo mudou de novo.

The Independent (Londres, UK) completou 25 anos e decidiu - outra vez - mudar seu projeto gráfico.

É verdade que apesar de ser o mais bonito jornal inglês, The Independent é o menos vendido entre os jornais de qualidade.

Mas nem sempre mudar projeto gráfico resolve. Na maioria das vezes, não.

O novo desenho, lançado há 15 dias, começa pelo logo, em bold, vermelho, lembrando a tipografia utilizada na antiga revista Realidade (SP).

O trabalho é do gênio do design, o espanhol Javier Errea, mas as dúvidas persistem: valeu a pena mudar? O desenho anterior - lançado no início de 2010 - estava esgotado?

As bancas é que darão a resposta.

PS: mais detalhes no site da Errea Comunicación.

Projeto gráfico, urgente

O Brasil tem uma excelente geração de designers, jornalistas competentes que sabem criar projetos gráficos sob medida para cada jornal.

Por que A Razão (Santa Maria, RS) e Diário de Taubaté (Taubaté, SP) não investem um pouquinho para chegar a um desenho, no mínimo, aceitável?

Essa é a típica economia sem sentido.

Falta capricho gráfico

O "template" utilizado para a capa do Diário do Grande ABC (Santo André, SP) é um modelo antigo de jornalismo - coluna de notas curtas, coluna de fotos e coluna de chamadas maiores.

Isso é muito velho - e não funciona mais.

Mas fica ainda pior quando se quebram imagens, aplicam fotos sobre fotos, utilizam imagens de pesos e amplitudes diferentes e ainda recortam as fotos.

É preciso repensar com urgência o grafismo falido do Diário do Grande ABC.

Sinais de cultura visual no Estadão

Um ano depois do novo projeto gráfico - que prometia valorizar as imagens - finalmente O Estado de S. Paulo (SP) cumpre a cartilha e rasga de verdade uma ótima foto.

Precisou ser o medalhista Cesar Cielo, mas valeu.

Ainda há esperança de ver o tradicional jornal paulistano adotando o que sua campanha de relançamento pregava: um diário visualmente agradável, que admite que as boas imagens valem muito.

Um ano perdido depois, há sinais de inteligência visual no prédio do Estadão.

Ufa!

A alta qualidade do jornalismo inglês

O viewspaper The Independent (Londres, UK) apronta mais uma das suas e crava uma fantástica reportagem sobre o dia que os EUA perderam o sentido.

O outrora conservador The Times (Londres, UK) anuncia uma forma de se acompanhar o casamento real com o gadget do momento, o iPad.

Os dois jornais têm um formato berliner, algo entre os tabloides gaúchos e catarinenses e o enorme standard dos jornalões de Rio e São Paulo.

Mas o desenho de capa é quase de revista: uma aposta forte, decidida, que domina pelo menos 70% do espaço da capa e no máximo uma segunda chamada forte.

No Brasil os jornais que adotaram formatos reduzidos ainda teimam em desenhar capas como se fosse um standard. E os standards lotam suas capas como se tivessem o dobro do tamanho.

Sorte de quem vive na Inglaterra, onde o jornalismo já chegou ao Século XXI.